Hoje foi um bom dia.
Bem que se minha mamãezinha deixasse eu gostaria de passar
mais tempo sozinha. Eu entendo sempre a preocupação dela em querer estar sempre
perto de mim, mas eu realmente sou uma pessoa que necessita de alguns momentos
de solidão.
Passei o dia estudando, ouvindo música BEM alto e
conversando com alguns amigos pela internet, mas uma dessas conversas me fez
ter um encontro comigo mesma que eu não tinha há muito tempo, aliada com a
leitura de Baudelaire que eu estava fazendo.
Se eu pudesse (não fosse o teor extremamente pessoal da
conversa), colaria ela toda e copiaria aqui.
Falávamos sobre a vida e a maneira que nos vemos nela. Somos
bem parecidos neste aspecto. Temos visões pessimistas da existência (não se
assustem, é só um estilo de vida). Adeptos do drama e da tempestade em copo d’água,
sempre transformamos nossos problemas em problemas muito maiores do que eles
realmente são. Isso também é um estilo de vida, mas geralmente da vida bem
subjetiva, não saímos por aí disseminando nossos pensamentos e a forma como
encaramos a vida aos 4 ventos, ou tentando mudar o mundo para que ele se adapte
ao nosso modo de pensar. Geralmente essas coisas só são ditas quando
encontramos pessoas que a gente sente que entende a gente.
Eu nem consegui entender ainda porque é que eu estou
escrevendo sobre isso aqui, mas deve ser pra justificar o porquê de eu ainda não
ter encontrado um lado positivo na minha doença, ou sei lá. Justificar talvez
os surtos desesperados de otimismo que eu ando tendo de vez em quando (isso sim
não é nada normal pra mim, não saudável pra minha alma, como se haveria de
imaginar).
Admito que a doença foi como uma pílula de fé e esperança
nessa minh’alma pessimista, mas eu não acredito nem que isso tenha sido bom pra
mim.
Não acho que eu esteja errada em pensar da maneira que eu
penso, ninguém está errado, cada pessoa tem suas próprias convicções, tem suas
próprias concopções de verdade, tem suas prioridades.
Talvez eu esteja tentando me convencer do que as pessoas
vivem me dizendo que a doença nos transforma em pessoas melhores, mas na
verdade tudo que eu quero é voltar a ser exatamente aquilo que eu sempre fui. Deve
ser por eu nunca ter me achado uma pessoa tão ruim assim.
Mas acho
que o que mais pesou nesse encontro comigo mesma foi ter me dado conta (não foi
a primeira vez) de como as pessoas tem me tratado desde que eu fiquei doente. As
pessoas não me tratam como me tratavam antes. Parece que a doença me deu uma máscara,
uma bolha. Eu devo ser protegida de certas coisas, eu devo ser poupada. Podem ter
certeza que eu mesma possuo um filtro consciente das coisas das quais eu
realmente devo ser poupada. As pessoas simplesmente não podem ver que a pessoa
aqui atrás do câncer é a mesma pessoa que era antes? Não gosto que as pessoas me poupem de seus problemas porque eu tenho um
maior que o delas. Gosto q elas me tratem como uma pessoa normal como sempre
fui, não uma aberração cancerosa.
Pessoas pessoas pessoas pessoas... quanta repetição.
Um problema é sempre um problema. Seja ele grande, enorme ou
pequeno. Seja ele um problema inventado (como os que eu tinha antes e quero
voltar a ter).
Eu disse, disse, disse e não disse nada. Mas, tirem suas próprias
conclusões, foi só um desabafo.