terça-feira, agosto 28, 2012

Mais um dia...

Eu ia tomar meus remédios e ir dormir. Mas resolvi voltar aqui pra frente do meu fiel companheiro, o computador, e escrever um pouco sobre meu dia.
Porque há dias mais difíceis que os outros.
Assim como há dias de trabalho mais árduos, há dias em que as mães sentem vontade de mandar os filhos pra casa da avó, há dias em que os doentes estão cansados de serem doentes (acho que isso acontece quase todos os dias, com exceção dos raros dias em que me esqueço que estou doente).
Até que tenho conseguido me distrair bem agora, esses tempos de política, e eu adoro isso. Mas sinto falta de estar no meio do povo, ouvindo os burburinhos. Ainda bem que já existem burburinhos virtuais.

Tenho reagido bem a quimioterapia. O protocolo que estou fazendo agora se chama GIV. Eu fiz 5 dias de quimio, entre o dia 30 de julho e 3 de agosto. A quimio dura cerca de 6 horas, e eu poderia ir pra casa todos os dias, com a condição de estar bem. E assim foi, mas não vim pra casa, ficamos na casa de amigos em Maringá mesmo. Era pra eu ter feito o reforço no dia 6/08, mas minha imunidade já tinha baixado muito e estava com anemia. Então retornei no dia 13. A anemia tinha piorado e tive que tomar sangue. E o Filgrastin pra imunidade (que dor terrível que eu senti). Tomei a Filgrastin por 3 dias e na sexta-feira fiz o reforço.

Hoje era pra ter começado o segundo ciclo do protocolo, mas a anemia falou mais forte de novo, e tive que tomar sangue. Quimio só semana que vem.Mas parece que eu já tinha certeza disso. Minhas tonturas não me enganam. Triste foi passar o fim de semana sem ver minha corujinha linda porque minha imunidade estava baixa.

Acho que é o cansaço, mas estou especialmente triste. Juro que isso não tem sido mais frequente. Eu já aprendi que não posso querer atropelar o tempo, que as coisas vão acontecendo exatamente como têm que acontecer. Que as pessoas certas entram em nossas vidas e nos surpreendem, e nos ajudam e vão fazendo com que o tempo seja algo mais leve de carregar. 

Os remédios têm me ajudado muito a me manter calma, tranquila e a ver que realmente a vida é uma coisa muito legal. Lutar para viver não é em vão. Pelas pessoas que amo, pelo ofício que amo, por tudo que amo... vale a pena viver.
E fazia tempo que eu não via coisas que tenho visto, e tempo que eu não sentia coisas que venho sentindo...

Outro dia comentei com a Alline (preguiçosa que ainda não me mandou o relato dela pra eu por aqui :P), que apesar de tudo que nós sofremos, esse sofrimento nos torna capazes de ver na vida pequenos momentos intensos de felicidade que as outras pessoas não veem. Como a Alline postar no Facebook toda contente que estava comprando amarradores de cabelo, e eu chorar de alegria em ler isso. 
Falando em cabelo, o meu está pavoroso. Ele nasceu só pra poder ter o prazer de cair de novo, e está num estado crítico terrível. 4 vezes careca.

Pra terminar, uma boa notícia: meu pedido através do Ministério Público do TFD pra quando eu for fazer o transplante foi deferido pelo juiz. Agora vou entrar com o pedido dos retroativos. Justiça, minha gente, justiça. Lhes adianto que não quero essa vitória só pra mim, quero pra todos que têm direito a ela. Esperem só eu sarar pra verem (torçam por isso). Por hora eu mal tenho força física e mental pra resolver pra mim, mas tão logo estiver com a saúde restabelecida brigarei pelos que precisam.

Hoje, desejo isso a mim, meu egoísmo me permite, mas também a quem mais precisar: FORÇA E FÉ. 

sábado, agosto 11, 2012

Crônica de uma morte anunciada...

Eu já sabia que isso ia acontecer. Desde maio, quando eu passei 20 dias em Curitiba para retirar as células tronco, que o Hospital de Clínicas está em greve. O Setor de Transplante de Medula Óssea não para, médicos e enfermeiros e demais profissionais estão todos os dias lá, trabalhando humanamente.
Mas o restante do hospital parou...
E não, eu não coloco a culpa desse caos nos funcionários que estão em greve. Eles têm família pra criar, passaram por anos e mais anos de estudo para estarem lá, eles mais do que merecem ter um salário digno, ter seus benefícios assegurados.
Eu queria poder fazer alguma coisa, mas quem sou eu? Eu sou só uma paciente, que depende desses profissionais pra recuperar a saúde.
Quem sou eu? Eu sou apenas uma eleitora. 
E agora todos os políticos estão muito ocupados em parecer bem postos nas fotos dos santinhos, eles não têm tempo de agir em favor do povo.  
Outro dia eu questionei sobre o Governador do estado, sr. Beto Richa, e em como a postura dele em estar apoiando dois candidatos a prefeito aqui da cidade me parece tão ridícula.
Mas hoje, só o que eu queria do governo do Estado era que intervisse por seus servidores federais, por uma negociação humana:

Eu não tô nem aí se ele vai apoiar Rogério ou César, só espero que ele faça o trabalho dele, 

o que não tem feito. Cortou verbas das universidades e simplesmente ignora esse caos. O 

Governo Estadual deveria intervir pelos servidores federais do estado, quem está perdendo 

com isso? Somos nós. Mas o Governo do Beto Richa é um governo de elite, ele não está nem 

aí pra gente que depende de SUS, de Universidade Pública, de nada que seja público. Peço 

as políticos de Paranavaí, vocês têm família, não têm? Imaginem um filho de vocês não poder 

fazer o transplante por causa de uma greve, justíssima por sinal, porque ninguém é obrigado a 

trabalhar praticamente de graça. Preocupem-se menos com as poses das fotos e ocupem-se 

um pouco mais com o POVO. 

Cadê o Beto Richa cobrando do Governo Federal medidas para acabar com a greve no 

Hospital de Clínicas de Curitiba? O Governador não deveria querer que o maior hospital do 

estado parasse, deveria cobrar do Governo Federal uma negociação humana, lutar pelo 

direitos dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde. Eu acabei de perder o 

chão com uma notícia que eu já sabia que ia acontecer. O setor de Transplante de Medula 

Óssea do HC parou. Eu já sabia que isso ia acontecer, mesmo assim estou desolada. 

Quantas famílias serão desfeitas com a morte de pacientes? Como é ficar meses, anos, 

esperando por um doador e chega no momento de renascer, o hospital para. Vocês aí que 

são "importantes" e têm contato direto com senhor Beto Richa, digam a ele que estamos 

esperando isso dele, nós, reles cidadãos que dependemos da saúde pública, que podemos 

ser assassinados por salários ridículos pagos aos médicos e profissionais de saúde. Peço 

pelo amor de Deus, ajam por nós, vocês são nossos representantes.




Antes eu esperava meu transplante de medula óssea. Agora eu já não sei mais o que 

esperar.

É tão desesperador depender de políticos.



Ps: a quem interessar possa Crônica de uma morte anunciada é o título de um livro do Gabriel García Márquez.