segunda-feira, maio 13, 2013

Sufocamento...

Uma coisa que me chamou muito a atenção nos últimos dias foi o sufocamento. Havia muito tempo que eu não ia ao centro de Maringá, ou havia muito tempo que eu não prestava atenção nele, ou nunca tinha prestado, mas aqueles prédios amontoados me causou uma sensação física ruim. Como as pessoas podem viver trancadas em casas nas quais não podem nem abrir as cortinas?
Lógico que isso me lembrou de 1984. Não é o ano que eu nasci, o livro: "Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força". Talvez já faça 10 anos que eu tenha lido este livro, mas as imagens mentais me vêem sempre à cabeça. A cada dia parece que eu vivo num mundo mais próximo daquele descrito por Orwell. Nem é tanto no momento a sensação de vigilância, mas de sufoco. A vigilância todos sabem que todo dia aumenta, uma câmera a mais, um número de identificação a mais, um cadastro a mais.
Mas o sufoco. O que o Winston Smith pensa, o que ele sente, como ele quer se livrar daquilo. Os espaços mentais de Winston. Mas tanta gente vive sem nem se dar conta do sufocamento. Só queremos uma prestação a mais do carro pra pagar, uma casa própria, mesmo que ela se pareça mais com uma cela qualquer para criar animais e você nem possa se mover lá dentro. Onde está o sonho do balanço na varanda? De criar os filhos soltos no sítio?
Tudo é sufocamento e somos cada vez mais induzidos a viver em sufocamento dentro do espaço de um apartamento minúsculo e de uma sala minúscula em computadores cada vez menores e que ocupam menos espaços.
Eu não sei se é porque eu estou um pouco avessa à loucura do mundo. Eu parei, eu estou olhando.
Quando vamos tomar café nos intervalos das aulas eu presto atenção nas pessoas que não param no quebra-molas em frente à padaria. Todos têm pressa. Pra tudo.
Eu mesma que vivi dois anos na inércia já tenho me dado às loucuras das pressas.
Como é que as pessoas respiram? Como elas criam seus filhos? Alguém ainda lê histórias para as crianças?
Nós passamos dias desapercebidos da vida.
E isso me lembra o blog do Arthur, não por outro motivo no momento, pelo nome Cotidiano e outras drogas (é um ótimo blog, vale muito ler). O cotidiano é a nossa maior droga e nele nos perdemos sem dar atenção a mais nada. O cotidiano vicia, nos deixa dependentes. Nos deixa sufocados sem nem ter consciência. Vivemos inebriados dele.
E não abrimos a cortina.
E não olhamos pro lado.
E não damos oportunidade a coisas diferentes.
Não nos permitimos fugir.
Não sei se faz tanto sentido assim fugir. Talvez o cotidiano seja essa droga tão pesada e as pessoas precisem mesmo dela pra viver e isso seja o normal.
Eu não sei de nada.
Só estou sentindo o sufocamento da vida nas outras pessoas.
Talvez eu tenha me sentido mais livre disso do que elas. Não necessariamente por um bom motivo, mas eu estou fora do contexto. Não que alguém saiba disso, mas eu não sei o que será do amanhã seteemeiadamanhã.
Talvez eu esteja me sentindo em um lindo campo verde onde eu possa enxergar as coisas ao meu redor.
Talvez eu esteja cega, apaixonada por Júlia (*passagem do livro).
Ou pode ser que eu seja mais prisioneira do que outros.
A ebriedade os satisfaz?